quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Filme - "Anjos Exterminadores" (França - 2006)





É interessante assistir filmes que certos críticos classificam como péssimos, geralmente você vai tentando contrariá-lo, procurando qualidades; assim como quando dizem que é excelente, você vai procurando defeitos. Claro que isso não inclue chutar cachorro-morto, como filmes do Didi e da Xuxa. Geralmente isso acontece com filmes polêmicos, ousados. Por exemplo, o filme taiwanês "O Sabor da Melancia", todas as críticas falavam que era ou ótimo ou péssimo.

Ontem fui assistir o filme "Anjos Exterminadores", que foi classificado na Veja como péssimo, onde falam que o filme é uma "picaretagem com ares pornográficos". Só por isso já é curioso, pois, mesmo que o filme seja ruim, fica a curiosidade de saber qual o enfoque dado ao sexo para um determinado filme dito como artístico. E para melhorar, o enredo desse fala de um cineasta que quer fazer um filme experimental sobre o prazer das mulheres e os tabus. Os testes iniciais das atrizes já são de masturbação em frente à câmera. E dá-lhe muitas cenas de nús frontais femininos e masturbação, explícitas.

O tema da masturbação feminina é algo que me interessa e atrai bastante, fiz até uma pequena poesia intitulada "Romântica", que é assim: "será que ela ainda / se masturba / pensando em mim"; pois ao meu ver, a masturbação é uma das coisas mais românticas que podem existir. Claro que existem as masturbações meramente sexuais, mas as masturbações apaixonadas são mais intensas, e às vezes, é apenas o que resta para a pessoa apaixonada, quando esta não é correspondida. O tênue limite entre erotismo e pornografia, entre poesia e vulgaridade é um dos principais temas que tento desenvolver em meus poemas e na minha música, e este filme veio bem a calhar, e é um tema com o qual é muito perigoso lidar, para não descambar para a mera sacanagem.

Li num comentário em algum site que esse filme é meio auto-biográfico, pois apesar do filme ser uma ficção, e não um documentário, ele realmente fez experiências sobre sexualidade em alguns filmes, e foi acusado de assédio e exploração sexual das atrizes, e essa auto-reflexão contribui positivamente para o filme. A crítica também detona o filme sob o argumento de que há muito blá-blá-blá desnecessário como é próprio dos filmes franceses. Na minha opinião, só há uma cena em que esse papo fica um pouco cansativo, em que ele conversa em um bar com uma em que uma atriz que trabalhava com ele desiste de ser atriz, de resto, as conversas são interessantes, como as em que ele explica porque ele não quer atrizes pornôs para o filme, pois para estas se tocar em cena não seria uma transgressão, ao que mulheres que não são atrizes pornôs confirmam sua tese, dizendo que o ato de transgredir se tocando em cena é, em si, algo extremamente excitante.

As coisas ficam bem quentes quando ele encontra uma linda morena clara para o filme, que o convida para jantar num restaurante, e ela diz que vai sentir prazer em um lugar em que não é destinado a esse fim, e ela começa a se tocar lá mesmo, e descrevendo em detalhes para o cineasta, como por exemplo, dizendo que está toda molhada, uma das coisas que mais excitam um homem. Impressionante a tortura à que ele se submete devido a uma promessa que ele fez, que não iria tocar nas atrizes. Ele diz que tem uma surpresa para ela, que logo chegaria mais uma atriz no restaurante, a morena diz se ela seria uma rival, e ele diz que ao contrário, será uma provável parceira, pois para o seu filme, além de masturbação feminina, ele quer filmar sexo entre mulheres, mas que não sejam propriamente lésbicas, pela excitação que certos tabus provocam nas pessoas, em estar fazendo algo novo e coisas do gênero. As duas começam a se tocar no próprio restaurante, chegam quase a um êxtase, mas ele diz para esperarem que vai ser melhor, que ele vai levá-las para um hotel próximo. Lá chegando, fazem uma das mais lindas e poéticas cenas de sexo entre mulheres que já vi.

A coisa começa a degringolar quando as atrizes começam a se apaixonar por ele, mesmo sem ele nunca tê-las tocado, mas pela excitação que ele causou nelas apenas em estar assistindo-as e instigando-as. O filme, por ser meio autobiográfico, serve um pouco como defesa para o cineasta, porém há um fundo de verdade. Apesar de falar e filmar somente sobre sexualidade, ele é tratado como inocente, paternal e protetor; e acaba se tornando vítima das circunstâncias, por mexer com sentimentos e coisas tão fortes. É muito estranho e surreal, mas mesmo assim bom, o lado sobrenatural que existe no filme, com sua avó morta aparecendo para dizer para ele tomar cuidado que ele está correndo perigo; além de duas anjas caídas, filmadas como mulheres normais, jovens, de jeans e regatas, que vão ditando o destino dele e dando conselhos.

Apesar da crítica ser tão negativa na revista, vi que o filme é bom. A reflexão sobre tabus e sobre o perigo de mexer com coisas tão fortes é boa, e a sensualidade que ele conseguiu nas masturbações femininas e sexo entre mulheres é ótima, fez algo poético, sensível e muito excitante.

Nota: 7

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