domingo, 20 de janeiro de 2008

Brega de A a Z - Carlos Alexandre

Carlos Alexandre é um dos pioneiros na fusão entre o brega e o rock, e também um dos principais representantes do brega debochado. Porém, antes de falarmos dessa característica, vamos falar de seus maiores sucessos, onde você certamente se lembrará quem é esse cantor. Seu maior sucesso é “Feiticeira”, que tem uma estrutura muito simples, com basicamente dois acordes, um ritmo pop rock e pouco mais que 2 minutos, a música é praticamente um sinônimo de brega, apesar de não ser de um romantismo exacerbado. Quem nunca ouviu os seguintes versos:

Feiticeira, feiticeira
Feiticeira é essa mulher que por ela gamei
Feiticeira, feiticeira
Eu não posso negar o feitiço que ela me fez

Um de seus outros maiores sucessos, “Ciganinha”, também segue praticamente a mesma estrutura, e envereda por um caminho parecido, falando das características de uma mulher, e também falando de um tema que estava em voga na época, os ciganos, um povo que sempre despertou a curiosidade, e serviu de matéria-prima para muitos cantores bregas:

Você é a ciganinha, dona do meu coração
Não tenho sangue cigano,
Mas vou pedir a sua mão

Só por estes dois inegáveis clássicos, ele já garantiria seu nome no panteão dos maiores artistas do brega, mas ele também é um dos pioneiros, e talvez um dos criadores da vertente do brega debochado, onde também existe humor e não apenas tristeza como na maioria dos bregas ultra-românticos. E ainda, no que diz respeito à musicalidade, foi um dos que melhor fizeram a fusão entre o brega e o rock, ou pop-rock, colocando um pouco mais de velocidade, em contraste com a lentidão das baladas de Bartô Galeno, por exemplo, e indo num caminho totalmente diverso dos bregas abolerados de artistas como Genival Santos.

“Arma de Vingança” fala sobre um ricardão que também é corno, ele é o ricardão por ter sido “usado como arma de vingança para fazer o mal ao seu namorado”, só que ele também é corno porque “agora ele volta pra você e você me deixa de lado”. Apesar de ter ingredientes românticos como dizer que ela o beijou na boca, o deixou apaixonado e que vai chorar por lembrar, a situação inusitada e o criativo termo e título “arma de vingança” dão o tom cômico da música.

“Já Troquei Você por Outra” mostra o deboche e a raiva logo no título, o que aproxima do rock, por sua irreverência.

“Mulher Igual a minha (Só em Outra Geração)” é daquele tipo de brega que o cara fica falando que a sua mulher é uma chata de marca maior, possivelmente o Falcão se inspirou nessa música para fazer “Mulher Mala”. Exemplos: “Se vamos a um cinema, e o filme é de amargar, ela diz que o filme é bom, e me manda estudar”, “se vamos a um restaurante e eu peço o jantar, ela diz que nada presta”.

Mas talvez o máximo da sua raiva, indignação e revolta esteja em “Vá Pra Cadeia”: “agora vá pra cadeia, que eu não quero mais te ver / é a polícia te levando, eu aqui fico zombando do teu jeito de viver / agora vá pra cadeia, porque o mundo é moderno / já que eu não te quero mais, vá morar com Satanás, lá nas grades do inferno”. O que tem a ver falar que o mundo é moderno? Deve ser só para rimar com inferno. Uma outra frase forte da música: “mas estou arrependido de um dia ter sofrido por uma mulher tão feia, você não merece amor, o carinho que eu te dou é a chave da cadeia”; aqui ele subverte o brega, pois o brega quase sempre é romântico, ou seja quase sempre idealiza a mulher como uma deusa, sempre linda. Aqui ele é quase um punk, porque deixa a raiva falar mais alto. Acredito que o Carlos Alexandre nunca foi e/ou nunca teve a pretensão de ser um ídolo romântico para as mulheres, e se tivesse sido, essa música pode ter causado um impacto nessa impressão. Imagine Roberto Carlos chamando uma mulher de feia!?

É interessante que existe uma espécie de seqüência para “Vá Pra Cadeia”, que é a música “Senhor Delegado”, em que ele pede para o delegado soltar a mulher dele que está presa. Mas quem pensa que o sacana e debochado Carlos Alexandre está arrependido por ter mandado prender a mulher está muito enganado. Ele, um fanfarrão, e um folgado exemplar, quer ela de volta para fazer comida e café: “Senhor delegado, solte essa mulher, preciso dela cedinho pra fazer o meu café”, mas ele não é capaz de “lembrar que há pouco tempo lhe chamou de feia”, na música “Vá Pra Cadeia”.

Outra música em que ele chama mulher de feia é “Não marco encontro por telefone”, que continua atual, por tratar de um problema que ainda existe com o advento da internet. Mulheres que não mostram fotos são de desconfiar, se mostram só fotos de rosto é quase certo que sejam gordas, tem os recursos de Photoshop e garotas que não são lá aquelas coisas, mas que fazem um book e milagrosamente ficam lindas. Claro que isso vale também para as garotas que irão fazer as tentativas de encontrar seu príncipe encantado pela rede mundial de computadores. Um pequeno parênteses cabe aqui: quase sempre nos damos mal imaginando que a dona da voz seja tão bonita quanto a voz, e ao encontrarmos nos decepcionamos; mas comigo se deu o contrário, coisa rara. A voz era feia, e não dei muita atenção para a garota, e um dia que estava sem fazer nada em casa, liguei para ela e combinamos de nos encontrarmos. Ao chegar lá enorme foi a surpresa ao ver que era uma das garotas mais lindas e cheirosas que eu já tinha visto na minha vida. Ainda bem que consegui dar alguns beijos com a garota, e inclusive logo após parecia que eu estava pisando nas nuvens, e fiquei pensando uns dez minutos “onde eu estou?”. Depois disso eu ligava direto para ela para marcarmos de nos encontrarmos novamente, aí era ela que ficava me enrolando, me enrolando, e nunca mais nos vimos. Fica aí a lição! Pois então, voltemos à música: ele garante e jura que nunca mais vai marcar encontro por telefone, e conta o caso que aconteceu com ele: "eu estava no hotel, o telefone tocou, uma voz tão carinhosa me chamava de amor, me encantei com a voz e convidei-a pra sair, mas ao ver ela de perto, digo com sinceridade, deu vontade de dormir", "aquela voz carinhosa que eu ouvi por telefone, ao ouvir pessoalmente, parecia voz de homem, a mulher era tão feia, que me deixou horrorizado e eu pensei comigo mesmo, será que marcar encontro por telefone é pecado".

Uma das melhores imagens de deboche é um trecho de "Traiçoeira", em que ele diz: "quando você for embora, me avise a hora da sua partida, eu vou na rodoviária comemorar a sua ida, quando o carro sair você vai ouvir eu soltar foguetão". Imagine, o Carlos Alexandre, na rodoviária soltando foguetão!!!

Existem também grandes músicas de Carlos Alexandre que seguiram um caminho mais tradicional da música brega, a música de corno, como “Por que você não responde”, que já começa com a clássica frase “eu preciso tanto saber como vai aqueles olhos tristes” e tem o forte refrão “por que amor eu chamo tanto e você não responde”.

“Se Você Fosse Por Mim”, tem um riff marcante, e apesar de seguir um tom mais tradicional, ele fala abertamente, “e agora vem você, querendo que eu lhe aceite outra vez, pra você me fazer de trouxa como você fez”.

“Cartão Postal”, que tem um ritmo meio sertanejo, é um dos mais bonitos bregas românticos já feitos: “estou lhe escrevendo com o coração partido de dor, pois estou sentindo uma vontade louca de beijar seus lábios, de abraçar seu corpo, e ficar quase morto com o beijo seu”, ele fala que está mandando para a amada um cartão postal com a foto da catedral onde eles se beijaram com juras de amor, e perante o altar, “os nossos olhos banhados em prantos, eu lembro que eu chorei e que você chorou”.

Ainda tem "Final de Semana" que é um pop extremamente delicioso, lembrando os melhores pops new wave dos anos 80. Ele diz que não tem muito tempo pra ficar perto da amada, pede pra ela não pensar que ele tem outro alguém. E uma das coisas mais gostosas é passar um fim de semana junto com quem gostamos, e o ótimo refrão diz: "eu quero passar um final de semana contigo".

domingo, 13 de janeiro de 2008

Filmes da Mostra - "Cargo 200" (Rússia, 2007)






Com certeza, um dos filmes mais cruéis que eu já vi. E foi engraçado que quem escolheu esse filme foi uma amiga minha, mas ela odiou e ficou horrorizada e eu gostei bastante do filme. Passaria batido para mim, pois quando vou ver filme de mostra, procuro sempre os filmes dos lugares mais inusitados, ou então um filme que tenha um roteiro muito estranho. O nome "Cargo 200" se refere ao nome do carregamento em que são trazidos mortos de guerra. O filme é russo, e russo quando quer ser cruel é pra valer mesmo! "Tropa de Elite" é fichinha no que se refere à crueldade quando comparado com esse, que tem requintes totalmente abjetos. Só que a crueldade é tão exagerada que fica quase que caricatural.

O filme se passa na época do final da União Soviética, e a vodka era proibida. Pois então, numa discoteca russa um cara vestido como roqueiro e uma menina que aparenta ter uns 16 anos, se encontram, e apesar de ela namorar e que ele seja namorado de uma amiga sua, eles acabam ficando. Ela é bem bonitinha, magrinha, branquinha e com cabelos lisos bem pretos, ele tem um cabelo meio comprido, uma jaqueta de couro e uma camiseta vermelha com a sigla da União Soviética (C.C.C.P.). Uma das coisas mais engraçadas do filme são os rocks russos da trilha sonora.

Como é um filme que é muito difícil de se achar, vou contar aqui o enredo que foi um dos mais incríveis que eu já vi.

O jovem casal sai de carro, e o cara quer parar numa cabana de beira de estrada para comprar vodka clandestina. Essa cabana é um show de horror, só gente estranha. O dono da cabana está conversando com um professor socialista ateu e tentando convencê-lo de que Deus existe. Só que o dono da cabana às vezes ameaça ele com uma espingarda. Tem também, a mulher do dono da cabana, um vietnamita, que é mecânico e está tudo sujo de graxa, e o personagem mais sinistro do filme, um cara que parece sósia do Ian Curtis do Joy Division. O rapaz foi comprar a vodka lá dentro e a moça ficou dentro do carro, então esse sósia do Ian Curtis, olhar sério e sinistro, cabelo curto, camisa social cinza, não fala nada, mas fica rodeando o carro e encarando a moça.

Ela assustada, vai lá dentro da casa pedir ajuda. Nesse meio tempo, o cara que estava com ela, tomou todas lá dentro, e acabou pegando no sono. A mulher do dono da cabana pergunta se ela sabe dirigir porque o "namorado" dela dormiu, ela diz que não sabe, então a mulher diz que ela vai ter que dormir lá, só que como o pessoal é perigoso, vai colocar ela pra dormir dentro de um quartinho separado do lado de fora da casa.

Só que o sósia do Ian Curtis acaba vendo ela entrando nessa casinha, e vai lá dentro. Ele vai junto com o vietnamita, ela está acuada, segurando uma espingarda, só que ele vai até ela, tira a espingarda da mão dela e começa a bolinar ela. O vietnamita pede pra ele não mexer com ela. Ele nem responde, aponta a espingarda para o vietnamita e dá um tiro bem no coração dele. A garota começa a chorar, e implorar para ele para não mexer com ela porque ela era virgem, e ele naquela frieza russa característica, diz somente: "Abaixa as calças". Ela abaixa, e ele pede: "agora fica de quatro". Aí ele pega uma garrafa e começa a enfiar nela, e ela chorando.

No dia seguinte, ele sai com ela como se fossem namorados, naquelas motos que tem um compartimento ao lado, igual dos desenhos animados. Detalhe: ela está algemada na moto. Ele todo feliz, começam a passear por paisagens horríveis. Além do céu da Rússia ser algo opressivo, quase sempre nublado, eles vão para uma região industrial, horrível também. Chegam na casa dele, horrível também, além de ser feia, está cheia de umidade e bolor nas paredes. Ele apresenta a garota para a mãe como sendo esposa dele. E a mãe também é horrível, parece um ogro, com a cara tudo suja de comida perto da boca.

Ele deixa a moça algemada na cama, às vezes a mãe dele vai dar broncas nela, pra ela se comportar bem, já que agora é esposa do filho dela. Quando ela está junto com o sósia do Ian Curtis, ela nervosa diz: "você vai se ver quando o meu noivo voltar, ele é general no Afeganistão, mas logo ele vai voltar", ele não responde nada.
Com o filme passando, descubrimos que o sósia do Ian Curtis é membro da polícia russa. E sendo policial tem acesso às informações. E acaba descubrindo que o noivo da moça morreu na guerra. Ele acaba tendo acesso ao carregamento em que veio o corpo do noivo, o "Cargo 200". Leva a caixa de madeira até a casa dele, junto com outros policiais, ele pede para os outros abrirem a tampa de alumínio. Depois pede: "coloca as medalhas nele, deixa ele bem bonito". Depois de colocarem, ele pede para os outros ajudarem ele a carregar o corpo, chega até o quarto em que a moça está dormindo, joga o cadáver, todo pálido e mole em cima dela, que acorda, o policial diz: "olha o seu noivo aí". Ela grita horrorizada. E o policial deixa o cadáver do noivo dela lá em cima da cama junto com ela. Nesse ponto, o estômago da maioria das pessoas já teria se revirado, mas ainda tem coisas piores, como vocês poderão ver.

O policial sósia do Ian Curtis, leva mais um cara para estuprar a moça, ela algemada na cama, e o cadáver do noivo estirado ao seu lado. Quando o cara termina o estupro, o policial dá um tiro no cara e mata ele. Agora ela terá que conviver com dois cadáveres na cama.

Mas não pára por aí, ele vai até o pai da moça, que está desesperado por ela estar sumida há tanto tempo, diz que estão procurando-a e logo irão encontrá-la e mais, tem a pachorra de pedir as cartas que o noivo mandava para ela, dizendo que poderá ajudar na investigação.

Aí sim vem a cena mais cruel do filme: a moça, continua como quase no filme todo algemada na cama, ao invés de estar vestida, está nua na cama, o cadáver do noivo do seu lado, o cadáver do outro cara que estuprou ela também na cama, estirado perto dos seus pés, o quarto todo cheio de moscas por causa dos cadáveres em decomposição, o policial sósia do Ian Curtis sentado numa cadeira, lendo lentamente as cartas de amor que o seu noivo lhe mandava quando estava na guerra. Caceta, quem cria uma cena dessa tem que ter realmente uma mentalidade muito doentia!!!

Como esse filme provavelmente vai ser dificílimo de achar, tomo a liberdade de contar o final, que também é cruel.

Quando o policial matou o vietnamita, ele ainda ligou para a polícia incriminando o dono da cabana como assassino, que acaba sendo preso, e o policial sósia do Ian Curtis, está levando ele para a cela dele, no meio do corredor, saca a arma e dá um tiro na nuca do cara, que cai morto.

A esposa do dono da cabana aparece na casa do sósia do Ian Curtis para se vingar, quando ela chega, está justamente acontecendo aquela cena das moscas, o cara só tem tempo de olhar, e ela mete um tiro de espingarda nele, que morre também. A moça, desesperada tendo que conviver com dois cadáveres na sua cama, moscas e cheiro de decomposição, implora para a mulher: "pelo amor de Deus, me solte, me solte". A mulher não diz nada, vira as costas e vai embora. Fim do filme.

Nota: 10

ps: depois posto sobre outros filmes que vi na Mostra.