quinta-feira, 29 de março de 2007

Comida coreana - macarrão com sashimi de raia (pimenta pouca é bobagem)

Já tinha provado comida coreana outras vezes. Diferente do que muitos podem pensar ela é muito diferente e não tem quase nada a ver com a japonesa ou chinesa, nem tampouco com a tailandesa ou indiana. Um dos pratos mais típicos coreanos é um tal de "churrasco adocicado". Pode parecer estranho, mas para mim, o resultado foi bom. Entre os acompanhamentos para tal churrasco tem alguns extremamente picantes, como uma acelga ou algo do tipoo, e alguns de aparência que pode parecer repulsiva para alguns, como um que são vários peixes minúsculos, de uns 2 cms, com olho, cabeça e tudo.
Mas até então, a comida coreana não tinha me chamado tanto a atenção assim, era apenas mais uma comida exótica, até eu comer esse prato: "macarrão coreano com sashimi de raia apimentado", no restaurante Mr. Robata, perto da Av. Paulista, aqui em São Paulo. Antes de vir o prato, vem os mesmos acompanhamentos do churrasco, inclusive os tais pequenos peixinhos. E então, vem o macarrão; me surpreendo com o fato do garçon também ter trazido uma tesoura, pergunto para que é, ele diz que é pra cortar o macarrão; realmente não dá pra comer sem a tesoura. O prato é servido frio; o macarrão é aquele típico macarrão oriental transparente, só que ele vem temperado com shoyu e algumas outras coisas; provei e achei apimentado. Mas não era praticamente nada comparado com o sashimi de raia. Tinha uma dose realmente violenta de pimenta, não sei se exagero, mas acho que umas dez vezes mais que o macarrão, e me deu a impressão da carne da arraia ser áspera. Foi uma combinação exótica, selvagem, inesquecível; e a comida coreana passou a ser das minhas preferidas.

Filmes sobre a África (parte II) - "Hotel Ruanda"



Outro filme que também se passa na África, que também é baseado em história real, e que também o ator principal está excelente no papel, "Hotel Ruanda". Conta a história de um gerente de um hotel que decide arriscar sua vida e de sua família para ajudar o número máximo possível de pessoas na guerra civil de Ruanda, como se fosse um "Lista de Schindler" africano. O filme mostra toda a inteligência, sangue-frio e diplomacia desse gerente de hotel em situações extremas como essa, ele negocia tanto com o pessoal indiferente da ONU quanto com guerrilheiros sanguinários. O filme mostra a desilusão que ele tem com a chegada das tropas da ONU, que era uma das maiores esperanças. O próprio general da ONU é sincero ao ponto de dizer para o gerente: "você devia era cuspir na minha cara", dizendo que os EUA só está fazendo uma média, assim como os brancos em geral, com os problema da África. Esse filme não ter uma trilha sonora tão boa e em outros aspectos não ser tão bom quanto "O Último Rei da Escócia", esse filme tem algo muito bonito e que pode levar muitos às lágrimas: o humanismo do tal gerente. O mundo precisa de mais gente como ele. Nota: 8,5

Filmes sobre a África (parte I) - "O Último Rei da Escócia"



O ator principal, Forest Whitaker, ganhou o Oscar e merecidamente (não que eu goste ou bote fé no Oscar, mas é que realmente gostei bastante da atuação dele nesse filme). Apesar do título, o filme conta a história de um ditador africano, em Uganda. Ele vai do cara legal e bonachão para o cruel e sanguinário em segundos. Um médico recém formado na Escócia escolhe por um acaso ir para Uganda (fechando os olhos e escolhendo um lugar qualquer num mapa múndi), e por outro acaso, acaba sendo médico particular do ditador, que na ocasião tinha acabado de se tornar presidente. No começo ele, ainda adolescente, se deixa seduzir pelas delícias de estar no alto escalão do poder, com direito a festas, mordomias, ganhar um mercedes (ou outro carro do estilo) de presente. Só que de médico particular, ele se vê aos poucos se transformar no mais importante conselheiro de um ditador sanguinário, cujo regime causou aproximadamente 250 mil mortes. Quando o médico decide ir embora, o ditador fala: "Você não pode! Uganda precisa de você! Você é como um filho para mim.". E pra completar, ele ainda se envolve com uma das três esposas do ditador. E ainda mais: engravida-a. Desgraça pouca é bobagem para o cara. Ah, numa das festas tem uma cena muito engraçada, o ditador de cowboy, em cima do cavalo laça um dos seus principais ministros. Tem outras cenas engraçadas, o filme consegue ser sério e divertido, engraçado e triste ao mesmo tempo, pois se trata de uma história real de massacre. Claro que não poderia deixar de destacar a sensacional trilha sonora, só com uns funks africanos tipo Fela Kuti, e também uma versão da "Me and Bobby McGee" da Janis Joplin cantada por uma cantora africana (e ainda é uma cena em que ela está cantando num bar onde o médico está bebendo). Nota: 8,5

segunda-feira, 19 de março de 2007

Comida tailandesa em Paraty



Vai aí uma dica se você for viajar para Paraty e gosta de comida tailandesa. No Thai Brasil comi um prato deliciosamente inesquecível. Era frango, castanha de caju, cebola roxa, cebolinha, num molho com shoyu picante, envolto numa folha de bananeira. Sensacional! Até repeti a dose enquanto estava lá.

indigestão

às vezes sinto vontade
de vomitar o mundo

O Psicopata do Martelo



(esta foto é de uma participação que eu fiz no show do Sebastião Estiva, tocando martelo, no Milo Garage... qualquer semelhança com a foto abaixo é mera coincidência... hehehehe)

Old Boy



Este filme coreano, apesar de ter cenas ótimas e antológicas, isto não é o melhor dele. O melhor é a história e o final, tão inesperado e tão bom quanto "Sexto Sentido" e "Clube da Luta", com a diferença que em Oldboy o final é mais angustiante e provoca um mal estar maior. A história fala de um cara que fica 15 anos preso sem saber o porquê, e depois sai em busca de vingança. Logo depois que ele sai, ele entra num restaurante, vem uma moça e pergunta o que ele deseja comer, ele diz, com uma cara de poucos amigos: "eu quero algo vivo" (isso é até normal na Coréia); ela traz um polvo numa bandeja e pergunta: "como o senhor quer que eu corte ele?", ele nem responde, pega o polvo pelo "pescoço", enfia a cabeça na boca e devora o polvo vivo, depois de comer a cabeça, você vê os tentáculos se mexendo pelo rosto e pelo pescoço. Cena forte, explícita e violenta, lembrando clássicos da violência. Outra cena chocante é quando ele encontra o carcereiro que tomava conta dele quando ele estava preso. Ele está com um martelo na mão e diz: "eu vou arrancar um dente para cada ano que você me deixou preso", e começa a arrancar com aquele gancho que fica na parte de trás do martelo, sem anestesia, sem nada. Repito, apesar destas cenas ótimas e do ritmo, do roteiro, da fotografia também serem ótimos, isso não é o melhor, o melhor é o final. Nota: 9

sábado, 17 de março de 2007

Maurício Reis - caminhões, dançarinas e suícidio


A maioria das músicas de Maurício Reis são bregas abolerados e algumas baladas, em que se destacam sua voz forte e interpretação dramática. A temática de suas músicas passa pelo romantismo, caminhões, dançarinas, e até uma letra sobre suicídio. O instrumental, apesar de ser bom, não tem aquela sonoridade dos bregas dos anos 70, puxando um pouco mais para anos 80.

O maior sucesso de Maurício Reis tem o ótimo nome de Mercedão Vermelho. Esse mercedão que a música fala é seu caminhão. "Mercedão Vermelho, tú és minha casa, tú és meu hotel, tú és meu espelho". Fala sobre a vida dos caminhonheiros, lembrando um episódio do Carga Pesada (lembrei de meu amigo Roger que diz que aguarda ansiosamente toda sexta-feira pra assistir o seriado): "a vida de um caminhoneiro, no Brasil inteiro, é viver a rodar, rodando na Rio-Bahia, na churrascaria, eu penso no Pará, num posto de gasolina, uma linda menina, quis me conquista, lhe convidei para o meu caminhão, pra ver meu coração, junto ao seu badalar".

"Verônica" é um boleraço, que Maurício Reis canta com sua voz forte e passional. É uma das músicas mais conhecidas do disco. A letra é normal, não tem nada de mais.

Agora "Lenço Manchado" tem uma das histórias mais tristes que eu já vi e tem toda uma história. "Eu já não sei o caminho que devo seguir, seguir. Ela jogou a minha aliança pra depois partir, partir" (Ele repete a última palavra para aumentar a carga dramática) "O lenço branco acenava dizendo pra mim, pra mim / o sonho desfeito, pois sinto no meu peito a dor do meu fim". É interessante como o "fim" é um tema recorrente nas músicas dos cantores bregas. Como nas tragédias gregas, se queixam de seu destino para Deus: "se existe a felicidade, justiça e amor, amor / porque então Deus me deu um destino de dor, de dor". E aí, vem um dos trechos mais tristes da música, além dela ter o abandonado, acontece um acidente fatal: "a poucas horas a notícia me deu, me deu / quem eu tanto amava, e me desprezava / na estrada morreu". Então, o drama aumenta: "pois no local confirmei a notícia que deu-me alguém / nessa estrada maldita foi-se a vida do meu bem / todos estavam com vida, somente meu bem morreu". E então ele fala sobre morrer, algo muito comum nos bregas: "em desespero eu grito, eu quero morrer meu Deus". E a conclusão e o porquê do nome da música: "o lenço que acenava manchado ficou, ficou / cobrindo seu rosto, meu grande desgosto, perdi meu amor".

"Chorar por Amor" eu já tinha ouvido com Sandro Becker, em uma versão melhor que essa.

"A Casa do Sol Nascente" é a versão que o Agnaldo Timóteo fez de "House of the Rising Sun" dos Animals.

"Quem sabe sou eu" fala que às vezes podemos somente aparentar que estamos felizes. Um refrão forte, contundente, junto com um lindo solo no violão, diz: "do meu sofrimento, quem sabe sou eu / da minha amargura, quem sabe sou eu / da minha solidão e da minha dor / quem sabe sou eu". Uma das melhores músicas do disco.

O refrão da "Aprenda coração" é um dos melhores e exagerados que já ouvi, cantado com uma voz forte, ele diz: "bate coração / pode quebrar minha costela / bate coração / me mate de amor por ela".

"Locutor", "Beijo Gelado" e "Onde Está Você" são boas, mas não tem nada de muito especial.

"Preciso Lhe Encontrar" tem um ritmo e um solo de saxofone muito estranhos, que é até difícil de explicar.

"A Partida", canção suicida explícita, (acho que até no rock é muito difícil encontrar uma música tão explícita sobre o assunto) é um dos pontos altos do disco: "já fiz de tudo / tentei até o suicídio / cortando os meus pulsos / pra chamar sua atenção", e tem uma rima que é impagável: "fui socorrido por um amigo meu / mas nem no hospital ela apareceu"

"Alguém Me Disse", começa com um solo de saxofone à lá Dire Straits e Kenny G e é uma linda canção de brega de corno, tanto na letra como na melodia. "Alguém me disse / que tu andas novamente / de novo amor, nova paixão / toda contente". A mulher retratada é bastante leviana, vai de um amor a outro despreocupadamente: "pouco me importa / que te vejam tantas vezes / e que tu mudes de paixão / todos os meses". Fica imaginando: "se vais beijar como eu pensei / fazer sonhar como eu sonhei"

"Prece por um pecador" começa com sinos de igreja e bateria de marcha, depois entra uma balada em que ele pede perdão para Deus por ter maltratado e feito sofrer a mulher que ele amava, e pede para ela voltar, mesmo que ele esteja errado. Com o regresso dela, ele promete voltar. Ótima música.

"Estrada da Vida" é aquele clássico inegável que diz: "nesta longa estrada da vida, estou correndo e não posso parar, na esperança de ser campeão, alcançando o primeiro lugar". Nunca vou esquecer numa gravação que fizemos com a nossa banda, o João cantando gritado esse trecho da música.

Uma das melhores faixas é um pout-pourri que começa com "Professora" que tem um refrão apoteótico que diz: "Professora, eu amo você / professora, nem sei como lhe dizer"; depois vem "Perdão Senhor", que mostra o drama e a culpa de se estar apaixonado por uma mulher casada; e "Dançarina", tão boa, que merecia ser uma faixa à parte: "dançarina, me dá o prazer de dançar comigo esta canção, vim aqui me distrair e prometo não sair sem furar o seu cartão".

A sua coletânea "20 Super Sucessos" tem alguns clássicos como "Mercedão Vermelho", "Verônica" e "Dançarina"; ótimas músicas como "Quem Sabe sou Eu" e "Aprenda Coração"; a impagável música sobre suícidio "A Partida"; embora tenha algumas músicas menos inspiradas e versões mais fracas de músicas de outros cantores. A sua interpretação e sua voz forte se destacam também. Nota: 8

Raul Seixas e Nietzsche

Raul Seixas e Nietzsche, os dois queriam ser super-homem, a cocaína representa bem os dois. Um ficou louco, o outro também.

manhã

acabei de acordar
a minha boca está seca,
amarga
e com mau-hálito

Raul Seixas e seu amigo Pedro


A letra da música "Meu amigo Pedro" do Raul Seixas me fez refletir sobre o modo de viver das diferentes pessoas com quem convivemos e sobre quem é realmente louco. Conheço tanto hippies quanto workaholics (pessoas que trabalham muito, e geralmente são gerentes e diretores).
Os primeiros são tidos como loucos, enquanto os outros são tidos como exemplos. Ora, os primeiros "estragam" sua saúde com prazer, drogas e música; enquanto os segundos "estragam" sua saúde com trabalho, pressão e estresse.
Os primeiros quase nunca tem dinheiro, os segundos geralmente o tem, mas muitas vezes não tem tempo e nem vontade para gastá-lo. Enquanto que para pessoas "sérias" sempre a primeira coisa que dizem sobre Raul Seixas e pessoas como ele, é que são loucas; porém, conheço pessoas que são muito mais loucas que eles, enquanto pelo menos os primeiros gastam sua vida se divertindo, os segundos gastam sua vida trabalhando e sofrendo.
Mas alguém pode querer refutar: "espera, mas os segundos tem uma família, mulher e filhos para sustentar". Aí eu digo: "tudo bem, mas isso vai ser bom pra você?". Se você não escolher bem, vai ter uma esposa ou marido pra te estressar mais, tirar seu dinheiro, e depois exigir pensão.

Raul Seixas diz para o seu amigo Pedro, "vai pro seu trabalho todo dia, sem saber se é bom ou se é ruim, quando quer chorar vai ao banheiro, Pedro, as coisas não são bem assim". É muito bonito o conselho que ele dá para o seu amigo. Tem muitas pessoas que trabalham, e realmente tem algum objetivo maior que o trabalho, usa o trabalho como um meio, aí tudo bem. Mas tem gente, que como as formigas, vão trabalhar todo o dia só por obrigação, e nem sabem o porquê.
Mostra também como as pessoas não podem expressar suas angústias e suas raivas no trabalho, tendo que sorrir para as pessoas que odeia, e se alguém o maltrata, em vez de responder no mesmo tom, vai chorar no banheiro. É um rancor, é uma raiva contida. "Guarde sua raiva, você não pode demonstrá-la", parece ser a regra número 1 no ambiente corporativo.

Outro dia eu li num livro o seguinte: "a juventude deixou de lado o velho trinômio sexo, drogas e rock'n'roll; hoje em dia é rancor, anti-depressivos e new age."

E ainda, temos a pressão na família que estejamos bem mais próximos do estereótipo de workaholic do que o de hippie. Uma crítica duríssima e cruel dad pressão da família para que você trabalhe e seja o dito "cidadão respeitável", está em "A Metamorfose" do Kafka.

Segue a letra de "Meu Amigo Pedro", na íntegra:

Meu Amigo Pedro
Raul Seixas
Composição: Raul Seixas e Paulo Coelho

Muitas vezes, Pedro, você fala
Sempre a se queixar da solidão
Quem te fez com ferro, fez com fogo, Pedro
É pena que você não sabe não
Vai pro seu trabalho todo dia
Sem saber se é bom ou se é ruim
Quando quer chorar vai ao banheiro
Pedro as coisas não são bem assim
Toda vez que eu sinto o paraíso
Ou me queimo torto no inferno
Eu penso em você meu pobre amigo
Que só usa sempre o mesmo terno
Pedro, onde você vai eu também vou
Mas tudo acaba onde começou
Tente me ensinar das tuas coisas
Que a vida é séria, e a guerra é dura
Mas se não puder, cale essa boca, Pedro
E deixa eu viver minha loucura
Lembro, Pedro, aqueles velhos dias
Quando os dois pensavam sobre o mundo
Hoje eu te chamo de careta, Pedro
E você me chama vagabundo
Pedro, onde você vai eu também vou
Mas tudo acaba onde começou
Todos os caminhos são iguais
O que leva à glória ou à perdição
Há tantos caminhos tantas portas
Mas somente um tem coração
E eu não tenho nada a te dizer
Mas não me critique como eu sou
Cada um de nós é um universo, Pedro
Onde você vai eu também vou
Pedro, onde você vai eu também vou
Mas tudo acaba onde começou
É que tudo acaba onde começou
Meu amigo Pedro