domingo, 30 de março de 2008

"O Segredo de Brokeback Mountain" (EUA - 2005)





Demorei bastante tempo pra assistir esse filme, por preconceito, e por ficar com o pé atrás pelo fato de que quase todo mundo estava falando bem, a Veja chegou a dar 5 cinco estrelas pro filme, quase nunca vi ela dá mais de 4; além do filme quase ter ganho o oscar.

O que eu imaginava era que seria apenas mais um melodrama meloso, com a diferença que os protagonistas seriam dois cowboys gays. E fiquei pensando, por que um cineasta taiwanês iria fazer um filme com uma temática que é tão intrinsecamente norte-americana, os cowboys. Seria para tirar um sarro, dizendo que existem cowboys que são homossexuais. Pois então, aos poucos estas expectativas do filme vão caindo, e o que se vê é um filme que, não importando se você é homossexual ou heterossexual, o que é mostrado é uma bonita história de amor, emotiva e sensível como há tempos não se via no cinema. Não é à toa que ganhou uma eleição como o filme mais romântico de 2005. E quando o filme te inspira fortemente a tomar uma atitude para reaver um amor mal-resolvido do passado, é sinal de que faz parte de uma nobre e rara linhagem de filmes. (Aconselho você ler o anexo no final, e depois continuar lendo sobre o filme)

Talvez esta seja a maior mensagem do filme: ouça o seu coração, ouse, arrisque-se pelo que você ama, tente fazer de tudo para ficar o máximo possível ao lado de quem você ama, não seja orgulhoso ao amar. O olhar de Jack ao ver Ennis ir embora era comovente.

Até mais ou menos a metade do filme, essa minha suspeita, do filme ser um melodrama convencional, ia se confirmando. A parte que mostra eles cuidando das ovelhas e criando uma amizade parece bastante parada, mas com lindas paisagens de natureza, criação de ovelhas, animais, etc. Quando chega a cena da barraca, com fortes insinuações de sexo gay, com beijo e tudo, fico pensando que talvez isso foi colocado no filme apenas para chocar, continuando o filme sendo um melodrama convencional. Mas tudo começa a mudar quando o trabalho deles na Brokeback Mountain acaba e eles têm que
seguir a sua vida normal. E na montanha, onde tudo era natureza, solidão, belezas naturais; são substituídos pelo tédio da rotina de uma vida em sociedade: trabalho, filhos, esposa, compromissos sociais, passar o dia assistindo tv em casa, almoço com os sogros, etc. Isso mostra que o ambiente influe muito para que um amor dê certo ou não. Com minha ex-namorada Alice, tivemos muitíssimos momentos felizes, mas o que me fez apaixonar por ela, foi que ela quando iria me encontrar, abandonava compromissos, trabalho, faculdade, família, e iríamos viajar para algum lugar legal e bonito juntos. Você estar a sós com a pessoa querida em um lugar paradisíaco provavelmente vai fazer você se apaixonar por ela. Mas quando começamos a conviver com as famílias, a história mudou bastante.

No filme, depois de terminarem o trabalho em Brokeback Mountain, os dois cowboys, Jack Twist e Ennis Del Mar se casam com mulheres e ambos têm filhos. Depois de quatro anos eles se reencontram, e inventam histórias para as esposas, como dizer que irão pescar para os dois poderem ficar juntos, e como sempre irão para a Brokeback Mountain.

Uma cena comum a praticamente qualquer casal: Jack viaja 14 horas, vem todo feliz, para encontrar Ennis, ao chegar Ennis diz que infelizmente não poderão ficar juntos aquele final de semana juntos, pois ele terá que ficar com as filhas, já que agora ele está divorciado, e só pode ficar com as filhas uma vez por mês. (Ora, poderiam ter passeado todo mundo junto, era só questão de se comportar, deixando para fazer as coisas mais quentes quando as filhas não estivessem olhando. Já passei por isso com uma garota, viajamos eu, ela, a família dela, e a filha dela; o medo dela era tanto que alguém visse que passamos 3 dias sem nada de sexo, e nem ao menos um beijo!). Jack, que tinha chegado todo feliz, ouvindo músicas animadas, volta chorando e ouvindo músicas melancólicas, vai até o México e paga um michê. (Num casal, todo cuidado é pouco para não magoar o próximo, principalmente quando está todo feliz para te rever, morrendo de saudades).

Outra questão que li num comentário sobre o filme: será que se os dois cowboys morassem juntos eles seriam felizes? Pois eles tentam a todo custo fugir da rotina, e deste jeito criariam uma rotina. É um caso de se pensar.

Uma das principais cenas é a discussão em que Jack reclama da pouca disponibilidade que Ennis tem para vê-lo. Eles passam meses sem se ver, e Ennis quer adiar o próximo encontro de agosto para novembro. Sei como é ter um namoro a distância, passar semanas, meses sem se ver. Quando se ama muito, é uma situação extremamente desconfortável, e é uma situação a que se acostuma, nunca se adapta totalmente.

Li várias críticas sobre o filme, a maioria elogiando, algumas poucos negativas. A crítica daquele blog "A Arca" não conta, pois é um site de nerds, inclusive trabalhei com eles numa empresa, diz que o filme não passa de um melodrama comum, em que só se mudam o tipo de personagens; ora, nerds não contam, nerds se preocupam e sabem mais de Guerra nas Estrelas do que de amor. Outra crítica negativa é que os personagens se preocupam muito com sexo. Ora, por experiência própria digo, que o sexo pode ser uma das principais causas do amor surgir, e além disso, o filme fala muito mais de amor do que de sexo.

E Heath Ledger proporciona uma das cenas mais emocionantes dos últimos tempos, apenas com dois botões.

Nota: 9 (bom, apesar das cenas de beijo e insinuação de sexo gay serem bastante incômodas, isso não tira os méritos do filme)

Anexo: Tem uma garota de quem eu gosto muito desde que eu a conheci. Apesar da forte amizade, nunca conseguimos que isso se transformasse em um namoro, quando eu estava solteiro, ela estava namorando, e quando ela estava solteiro, era eu quem estava namorando; quando ambos estavam solteiros, acabou havendo um desencontro. Depois de um tempo, ela começou a namorar firme, conforme conversa e status no orkut. Chegamos a ficar seis horas seguidas conversando por msn, por telefone ela era toda tímida, o que a tornava mais encantadora ainda. Conforme não mencionei ainda, a distância era um obstáculo, já que eu moro em São Paulo e ela no Rio de Janeiro. Falávamos horas e horas de música (uma grande paixão minha), e ficávamos imaginando nós dois nos amando ao som de Wando, Reginaldo Rossi e Raimundo Soldado. Eu mandava-lhe os trechos mais apaixonados de músicas de Bartô Galeno, subentendendo que era para ela, ela ficava toda encantada. Ela virou super-fã de Raimundo Soldado, passou a indicar para vários amigos.
Ela me falava dos seus namorados, e eu sempre me imaginando o dia que eu seria esse sortudo.
Ela era de um tipo físico que é dos meus preferidos, morena clara, cabelo liso, preto, lábios meio carnudos, descendente de espanhóis.
Por causa de meu amor por ela, mandei uma carta com 12 páginas escritas a mão, mais 3 cds de mp3s, só de música brega, com 8 horas cada um, o que totalizava 24 horas de brega.
Quando comentei para o pessoal do trabalho que eu iria conhecer uma carioca (eu já havia namorado uma carioca antes), que adora música brega, que era morena clara, do jeito que eu gosto, todo mundo me disse: "daí sai casamento".
Mas o desgosto de não termos conseguido nos encontrar quando ambos estávamos solteiros, foi muito triste, e é uma marca que eu carrego até hoje no meu coração. Poderia não ter acontecido mais nada, mas eu precisava conhecer aquela garota pessoalmente.
Apesar de ser uma garota mais nova, eu tinha 26 anos, e ela tinha 18, ela tinha um dos melhores papos que eu já tive com uma garota na minha vida. Ela era inteligente, atenciosa, criativa, e ainda compartilhavamos quase todas as opiniões, o que é muito raro, pois tanto as minhas opiniões como as delas, são opiniões que eu imagino que fogem do lugar-comum, e que também tentam fugir da hipocrisia reinante nesse nosso mundo. Pode ser que lutávamos contra moinhos de vento como Dom Quixote, mas destas nossas conversas é uma das coisas que mais sinto saudades em minha vida.
Lembro a imensa alegria quando, depois de um tempo sem conversarmos pelo Orkut, eu lhe mandava um scrap dizendo que estava com saudades, e ela respondia: "Scan, eu também estava morrendo de saudades". Ela me chamava de pitéu, e eu chamava ela de pitéuzinho.
Sabe aquela música do Legião Urbana que diz: "dos nossos planos é que tenho mais saudades". Pois então... É com lágrimas nos olhos que eu lembro dos planos que fizemos de quando nos encontrássemos, iriamos na Feira dos Paraíbas lá no Rio, tomaríamos Guaraná Jesus de canudinho, nós dois juntos.
Como na última cena do "O Segredo de Brokeback Mountain", o que mais emociona são os detalhes, as lembranças; como naquele clássico do Bartô Galeno, "encontrei no porta-luvas, o lencinho que você esqueceu, e num cantinho bem bordado, o seu nome junto ao meu". Posso garantir que essa é uma das coisas que mais dóem para o personagem da música.
Hoje em dia ela sumiu do Orkut, não me manda e-mail, não telefona, é quase como se ela tivesse morrido, e isso dói demais.
O medo, e como diz o meu amigo João, a frouxidão, é o que existe de pior no ser humano. Nesta época que ambos estavam solteiros, eu ainda estava um pouco enrolado com minha ex-namorada. Deveria ter enfrentado e corrido o risco das coisas darem um pouco errado. Eu iria para o Rio, e correria o risco de encontrar o pai, irmão, irmã ou amigo da minha ex-namorada. E daí? Eu não teria perdido a oportunidade de uma das pessoas mais especiais que já cruzaram o meu caminho nesta vida.
E ela talvez seja a única garota com quem bastasse uma palavra dela para eu namorar, casar e tudo mais.