quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Personalidades - Seu Paulo




Como eu não tenho foto do Seu Paulo (ainda não tinha câmera digital na época em que eu tocava com ele), vai aí uma foto do Charlie Watts, com quem ele se parece. O Seu Paulo foi um baterista que tocou comigo e com o João durante uma época, e pra se ter idéia da idade dele, ele chegou a tocar com o Carlos Gonzaga que cantava aquele rock dos anos 50, "Diana" ("não te esqueças meu amor, que quem mais te amou fui eu"), que provavelmente foi um dos primeiros rocks brasileiros.

Meio baixinho e gordinho, bonachão, gente boa, simpático, solteirão e quase sempre com um sorriso no rosto, gostava bastante de uma pinga com limão, como também de jogos de azar. Muitas vezes ele chegava nos ensaios com um fonão nos ouvidos e walkman. Perguntávamos o que ele estava ouvindo, ele disse que estava ouvindo um jogo de futebol porque tinha jogado na loteria esportiva. Fez uma rifa da sua bateria e ele mesmo ganhou, e depois ainda vendeu a bateria. Pensou que tivesse descoberto uma maneira infalível de ganhar na Loto Fácil, mas para isso precisaria jogar mil reais. Por causa disso, ele sempre me ligava para entrar nesse bolão com duzentos reais. Quando eu perguntava para o João novidades sobre o Seu Paulo, ele sempre dizia que estava juntando esse dinheiro para jogar na Loto Fácil. É, quando finalmente juntou esse dinheiro infelizmente a estratégia não deu muito certo: dos 1000 reais jogados, acabou só recuperando 200 reais, ou seja, perdeu 800.

O melhor do Seu Paulo são as histórias que ele conta, e talvez a melhor seja a que eu vou contar agora. Essa aconteceu quando ele estava fazendo uma turnê com o Carlos Gonzaga na Bahia, não sei se foi nos anos 50 ou 60. Ele estava almoçando com todo o pessoal da banda e um amigo ofereceu para o Seu Paulo escolher entre os dois bifes que haviam sobrado, aí ele escolheu o bife maior, e por ter ficado com peso na consciência, saiu pra andar sem rumo pelas proximidades. Seu Paulo disse que, por nessa época ainda não tinha pavimentação na Bahia, aí ele acabou se perdendo nessa andança. Ele ficou desesperado e fez uma absurda promessa para Deus: se ele achasse o caminho de volta para onde estavam os outros, ele se jogaria de um abismo. Como logo em seguida ele achou o caminho, ele teria que cumprir a promessa. Então, ele voltou à casa, durmiu, e no dia seguinte, teria que se despedir de todos para cumprir sua promessa, inclusive de uma namorada que ele tinha na época e gostava muito, chegou na porta da casa e, acenando, disse: "Adeus!", claro que ninguém entendeu nada. Quando ele achou o que queria, ficou só de cueca e se jogou num abismo numa pedreira que tinha lá perto. Por sorte, havia uma árvore no meio do caminho e a queda não foi tão grave.

Tem uma outra história dele que eu não lembro bem que ele fala que foi para os bares perto das docas do porto de Santos sentava perto do pessoal que tocava lá para aprender a tocar alguns outros ritmos na bateria.

Seu Paulo também chamava a atenção pelas frases de impacto, às vezes estávamos conversando um assunto qualquer e de repente ele falava: "o meu negócio é dinheiro".

Faz tempo que não tocamos com ele, ele disse que está meio cansado para continuar tocando, gostávamos bastante de tocar com ele, com um estilo discreto e preciso à lá Charlie Watts, e acompanhava numa boa as viagens instrumentais de 20 minutos meio kraut rock que eu e o João fazíamos.

Trilha sonora do post: "40 Licks" - Rolling Stones (com destaque para "You Got Me Rocking" e "Paint It Black")

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