domingo, 18 de maio de 2008
"O Assassinato de Jesse James pelo covarde Robert Ford", EUA, Andrew Dominik, 2007
Uma das críticas negativas que mais me deixaram interessado em assistir esse filme foi uma que disse que estava sendo criado um monstro: o western de arte. Trata-se de um filme longo e lento, um faroeste de quase três horas de duração com pouquíssima ação. Então, como pode ser bom? Simples: trata-se de quase que pura contemplação. A fotografia é belíssima, alguém escreveu dizendo que o diretor de fotografia trata-se praticamente do terceiro personagem principal, junto com o Jesse James e com o Robert Ford. Nada mais correto. Em muitas cena ele procurou uma fotografia de encher os olhos: além de belas paisagens, a harmonia também é notável, uma hora é Jesse James todo de negro em seu cavalo preto subindo em um monte cheio de neve, outra é o campo cheio de trigo florescente em contraste com o céu todo azul, a roupa dos personagens em harmonia com tudo isto; em todo filme nota-se um capricho exemplar. Une-se a isso a contemplação de uma análise psicológica de um complicado personagem: o mais famoso bandido norte-americano no seu dia-a-dia. Como mostra o filme, durante muito tempo ele foi tido praticamente como um ídolo. E o seu coadjuvante, que já pelo nome do filme sabemos que irá assassiná-lo, tinha Jesse James como seu maior ídolo. Curiosamente o assassino de John Lennon também o tinha como seu maior ídolo. O que leva alguém matar a quem idolatra? Decepção? A decepção, quando se trata de ídolos, é quase certa. Coloca-se o ídolo num altar como alguém perfeito, mas ele é humano como todos nós. Como se faz essa mudança de sentimentos? Esse filme mostra isso de uma forma bastante interessante.
E, além disso, quem não tem curiosidade de ver um ídolo ou mesmo alguém muito famoso em sua intimidade. O filme mostra a intimidade do maior bandido dos Estados Unidos na época do velho oeste como alguém muito família, com mulher e dois filhos. E paradoxalmente, é alguém que assalta e mata, muitas vezes sem ter tanto motivo.
Li também que o filme mostra o fascínio que temos com os famosos, o que leva a revista Caras ser tão vendida. Robert Ford não coleciona revistas Caras, mas todos os livros de bang-bang com as histórias de Jesse James.
Além do assassino do John Lennon, outro personagem que me veio à mente, e que pode definir bem Robert Ford é Judas Iscariotes. Assista o filme e você vai entender.
Atores que são galãs costumam sofrer muito preconceito, e precisam atuar melhores do que não-galãs para não sofrerem tantas críticas. Por isso, demorei para assistir "Clube da Luta", primeiro porque pelo nome parece filme do Van Damme, e segundo porque um dos personagens principais era feito pelo Brad Pitt. Assisti por insistência de um amigo meu, e os dois preconceitos caíram: o filme e a história são muito bons, e o Brad Pitt atuou bem; além do fato de ter sido produtor de um projeto tão interessante quanto este.
Pois então, Brad Pitt no papel de Jesse James está excelente, conseguiu captar muito bem as nuances psicológicas e o seu comportamento, quase sempre contido, mas certeiro em suas explosões. Recebeu merecidamente o prêmio de melhor ator, não sei em qual competição.
Foi uma pena o filme ter sido alvo de muitas críticas negativas nos jornais e revistas de São Paulo, e ter ficado pouco tempo em cartaz, pois na TV perde-se muito do impacto de sua belíssima fotografia (outro filme recente que também tem ótima fotografia e também trata-se de uma espécie de renovação do faroeste é "Sangue Negro", outro ponto em comum com este é que ambos tem uma ótima análise psicológica).
A trilha sonora, assinada por Nick Cave, é bela, com uma espécie de folk minimalista, lenta e contemplativa como o filme, aliás Nick Cave faz uma ponta no filme como um cantor folk que canta em um bar uma música em homenagem a Jesse James.
Quanto ao filme ser longo, em alguns poucos momentos achei cansativo, mas o fato de ser longo, considero isto uma qualidade, ser lento e contemplativo hoje em dia é algo meio subversivo, e ainda mais se tratando de um filme norte-americano.
Uma das poucas coisas que eu não gostei tanto foi a cena do assassinato, não há muita preparação para o fato, mas por outro lado o jeito que o tiro é filmado é bem legal.
Os fãs de faroeste tradicional provavelmente não irão gostar. Não há muitos tiros, e sim mais uma reflexão melancólica de Jesse James sobre este seu passado.
Nota: 9
Trilha sonora do post: "Defixiones, Will and Testament", Diamanda Galas, EUA, 2004
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