segunda-feira, 28 de maio de 2007

Brega de A a Z - Alypio Martins



Alypio Martins faz parte da vertente mais humorística e debochada do brega, ao invés de se aprofundar em lamentos românticos, prefere fazer letras de sacanagem com duplo sentido, à moda do Genival Lacerda.

Talvez o refrão mais famoso que ele compôs seja aquele que é um dos maiores hinos dos cornos que o Falcão sabiamente regravou: "Lá vai ele, com a cabeça enfeitada, sem saber que a sua amada, lhe traiu com outro alguém" (pô, se traiu, é lógico que foi com outro alguém! Essa vai pra coletânea dos maiores pleonasmos da música brega).

"Maria Antonieta" parece ser o embrião do que viria a ser um dos maiores clássicos dos bregas de duplo sentido, "Julieta" ("julieta-ta-ta, tá me chamando"), onde tem versos sacanas e hilários como: "sua mãe toca trombone, e seu pai toca corneta".

Uma das músicas que já o nome é um dos trocadilhos mais infames da história da música (isso é um elogio, claro), é a "Oh Darcy": "se meu time não ganhar / oh darcy, oh darcy / se o patrão me despedir / oh, darcy, oh, darcy / se você não voltar pra mim / oh darcy, oh darcy", e pra ajudar, ainda tem choro de bebê na música (totalmente clichê) e uma voz com aquele eco bem brega: "exclusiva" (esse então nem se fala... hehehehe)

Outras música com duplo sentido é a "Pegue na Boneca" ("se você apertar, ela pode chorar").

Alypio Martins também foi politicamente incorreto, com uma música que se fosse lançada hoje, provavelmente seria alvo das feministas ou até fosse proibida: "Vou começar a bater em mulher". A música fica mais engraçada por conta do ritmo, que é um samba bastante animado; a letra, "nelsonrodriguiana" e impagável, fala: "vou começar a bater em mulher, elas adoram ser maltratadas, elas só gamam se um dia apanhar, se estão certas, se estão erradas, Nelson Rodrigues é quem vai nos ensinar".

Em uma das músicas ele fala de sua lógica bastante inusitada para fugir do compromisso com alguma mulher: "meu coração eu não dou, porque não posso arrancar, arrancando eu sei que morro, e morrendo não posso amar".

Por ele ser do Pará, muitas das suas músicas tem como base rítmica o carimbó; aliás, o ritmo tem bastante destaque em suas músicas, inclusive algumas tendo uma levada extramemente suíngada, como é o caso da música "Dor de Cotovelo", que tem um ótimo arranjo de baixo, bateria e guitarra wah-wah. Na inacreditável música "Piranha", num ritmo que é tipo um carimbó suíngado, ele esquece disso e grita como se fosse um rock: "Piranha, é um peixe voraz, do São Francisco / não, não perdão, Rio São Francisco / não, não Amazonas / nosso grande rio, Amazonas / eu não faria uma canção / nem tocaria o meu violão / para um peixe qualquer / (carregando no grito agora) o diabo que carregue / quem disser que não é / piranha". Outras com um ritmo forte, com letras falando sobre animais em letras beirando o infantil, mas que não deixam de ser ótimas: "Rebu no Galinheiro" e "Tatu da Velha Noca".

Outra característica comum em muitos artistas bregas são as músicas que exaltam seu estado ou região, e convidando o ouvinte a viajar e conhecer, e neste caso, ele acerta em cheio, dá uma vontade danada de ir conhecer o Pará: "se você já tomou chimarrão, torresmo ou tutu de feijão, falta provar tacacá", "se você já entrou num forró, ou castiga um samba legal, vai adorar dançar carimbó", "o açaí que estou comendo tem aquele gosto bom que outro o Brasil não dá". Confira as músicas "Casca de Coco" e "Meu Bem do Pará".

É interessante que algumas vezes ele faz músicas românticas de dor de corno que ao mesmo tempo são safadas, como "Amor ao telefone", "você no meio da noite me ligava, me chamando pra fazer amor por telefone, a gente se amava, a gente gozava, mas tudo acabou".

Outras músicas com nomes nada sutis: "Pistoleiro do Amor" (essa com um clima meio faroeste picareta, com assobio e tudo), "Tira a Calcinha".

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