Por falar em Rolling Stones, eu lembrei do segundo show que fizemos com o Acapulco Drive-In, que era o João na guitarra e voz, eu no baixo e voz e o Dário na bateria. No primeiro show que fizemos no Abutre's, até que estávamos dosando com mais moderação os clássicos do rock e as improvisações, intervenções e interlúdios noise no meio das músicas. Porém, nesse segundo, no antigo Filhos do Vento, hoje Magic Bus, já começamos o show chutando o balde: uma versão de uns 20 minutos da "Paint It, Black" dos Rolling Stones. Nessa hora eu já vi saindo injuriada do bar, um cara injuriado falando com a namorada e apontando para o bar tipo como se disesse: "olha que horror, vamos embora daqui, assim não dá".
No decorrer do show fomos percebendo que realmente estávamos exagerando; mas não deixamos de fazer ainda algumas improvisações longas e psicodélicas no meio do show. Em uma delas o João ficou fazendo o efeito de glissando (as notas ficam contínuas, tendendo ao infinito) com o auxílio de uma chave de fenda (esta chave de fenda deu o que falar, como vocês notaram adiante no texto; e apesar de se usar uma chave de fenda, o efeito não era agressivo, lembrava mais aqueles sons ambient, com teclados e sintetizadores), enquanto eu no baixo cheio de efeitos ficava fazendo linhas circulares e hipnóticas.
Além da psicodelia, também estávamos tocando algumas músicas com mais energia, e quando eu cantei a versão do Wander Wildner da "Lonely Boy" dos Sex Pistols, um punk que estava bem na frente na platéia falou: "pô, que legal! vocês tocam outras dos Sex Pistols?", e eu falei: "a gente também toca 'Anarchy In The UK' e 'God Save The Queen'"; ele perguntou se poderia cantar, eu falei: "sobe aí". Nem tínhamos ensaiado essas músicas, mas foi na emoção, como diz o grande Dário. Essa hora o show começou a esquentar mais, e começamos a tocar mais pilhados ainda. O final do show foi sensacional e selvagem: estávamos tocando uma versão apocalíptica, barulhenta, longa e com muita improvisação da "I Wanna Be Your Dog" dos Stooges. Depois de cantar, ficamos só fazendo barulho e microfonia, quando aconteceu o mais legal: subiu um cara da platéia no palco, ficou agachado e berrando insanamente, lá em cima do palco.
Músico iniciante toca só pela satisfação e prazer, porque financeiramente, é só prejuízo. O cara não pagou nada, só deu comida e bebida de graça. Antes do show ficamos eu, o João e o Dario comendo uns lanches nervoso e bebendo cerveja até não aguentar mais. Nesse meio tempo, não estava curtindo muito a banda que estava tocando antes, só tocava uns pop rocks convencionais, e tudo muito certinho, então sai um pouco do Filhos do Vento e fui num boteco ao lado que estava bem mais interessante: um cara numa bateria realmente muito tosca, além dele tocar todo duro, para bater na bateria, ele mexia não só a mão inteira, como o braço inteiro, muito engraçado; e o cara da guitarra, tocava uma Tonante com um adesivo de Nossa Senhora, também tosca no limite, desafinada (e um timbre lindo, como os instrumentos de segunda linha costumam ter), e tocavam, pelo que eu me lembro, covers do Raul Seixas, entre outras músicas.
Como eu disse anteriormente, eu disse que mais pra frente falaria da chave de fenda. Pois então... Além do cara não nos pagar para tocar, ele apareceu na casa do João dizendo: "O que foi aquilo? Vocês ficaram fazendo umas barbaridades (esse "barbaridades" num sotaque meio gaúcho) com a chave de fenda e acabaram queimando o amplificador. Vai ficar 50 reais, 25 pra cada um, você e o baixista que usaram os amplificadores". O João acabou pagando o cara, mas eu não, acabou só recebendo 25. Que picareta!!!
Trilha sonora do post: "40 Licks" - Rolling Stones (com destaque para "Let's Spend The Night Together" e "Miss You")
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