A letra da música "Meu amigo Pedro" do Raul Seixas me fez refletir sobre o modo de viver das diferentes pessoas com quem convivemos e sobre quem é realmente louco. Conheço tanto hippies quanto workaholics (pessoas que trabalham muito, e geralmente são gerentes e diretores).
Os primeiros são tidos como loucos, enquanto os outros são tidos como exemplos. Ora, os primeiros "estragam" sua saúde com prazer, drogas e música; enquanto os segundos "estragam" sua saúde com trabalho, pressão e estresse.
Os primeiros quase nunca tem dinheiro, os segundos geralmente o tem, mas muitas vezes não tem tempo e nem vontade para gastá-lo. Enquanto que para pessoas "sérias" sempre a primeira coisa que dizem sobre Raul Seixas e pessoas como ele, é que são loucas; porém, conheço pessoas que são muito mais loucas que eles, enquanto pelo menos os primeiros gastam sua vida se divertindo, os segundos gastam sua vida trabalhando e sofrendo.
Mas alguém pode querer refutar: "espera, mas os segundos tem uma família, mulher e filhos para sustentar". Aí eu digo: "tudo bem, mas isso vai ser bom pra você?". Se você não escolher bem, vai ter uma esposa ou marido pra te estressar mais, tirar seu dinheiro, e depois exigir pensão.
Raul Seixas diz para o seu amigo Pedro, "vai pro seu trabalho todo dia, sem saber se é bom ou se é ruim, quando quer chorar vai ao banheiro, Pedro, as coisas não são bem assim". É muito bonito o conselho que ele dá para o seu amigo. Tem muitas pessoas que trabalham, e realmente tem algum objetivo maior que o trabalho, usa o trabalho como um meio, aí tudo bem. Mas tem gente, que como as formigas, vão trabalhar todo o dia só por obrigação, e nem sabem o porquê.
Mostra também como as pessoas não podem expressar suas angústias e suas raivas no trabalho, tendo que sorrir para as pessoas que odeia, e se alguém o maltrata, em vez de responder no mesmo tom, vai chorar no banheiro. É um rancor, é uma raiva contida. "Guarde sua raiva, você não pode demonstrá-la", parece ser a regra número 1 no ambiente corporativo.
Outro dia eu li num livro o seguinte: "a juventude deixou de lado o velho trinômio sexo, drogas e rock'n'roll; hoje em dia é rancor, anti-depressivos e new age."
E ainda, temos a pressão na família que estejamos bem mais próximos do estereótipo de workaholic do que o de hippie. Uma crítica duríssima e cruel dad pressão da família para que você trabalhe e seja o dito "cidadão respeitável", está em "A Metamorfose" do Kafka.
Segue a letra de "Meu Amigo Pedro", na íntegra:
Meu Amigo Pedro
Raul Seixas
Composição: Raul Seixas e Paulo Coelho
Muitas vezes, Pedro, você fala
Sempre a se queixar da solidão
Quem te fez com ferro, fez com fogo, Pedro
É pena que você não sabe não
Vai pro seu trabalho todo dia
Sem saber se é bom ou se é ruim
Quando quer chorar vai ao banheiro
Pedro as coisas não são bem assim
Toda vez que eu sinto o paraíso
Ou me queimo torto no inferno
Eu penso em você meu pobre amigo
Que só usa sempre o mesmo terno
Pedro, onde você vai eu também vou
Mas tudo acaba onde começou
Tente me ensinar das tuas coisas
Que a vida é séria, e a guerra é dura
Mas se não puder, cale essa boca, Pedro
E deixa eu viver minha loucura
Lembro, Pedro, aqueles velhos dias
Quando os dois pensavam sobre o mundo
Hoje eu te chamo de careta, Pedro
E você me chama vagabundo
Pedro, onde você vai eu também vou
Mas tudo acaba onde começou
Todos os caminhos são iguais
O que leva à glória ou à perdição
Há tantos caminhos tantas portas
Mas somente um tem coração
E eu não tenho nada a te dizer
Mas não me critique como eu sou
Cada um de nós é um universo, Pedro
Onde você vai eu também vou
Pedro, onde você vai eu também vou
Mas tudo acaba onde começou
É que tudo acaba onde começou
Meu amigo Pedro
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