sexta-feira, 29 de junho de 2007
Brega de A a Z - Ângelo Máximo
Cantor brega que ficou conhecido por suas felizes músicas de amor, para comprovar que nem só de tristeza vive o brega. Uma delas é "Domingo Feliz":
Ha ha ha hoje é meu dia
Eu vou ter ter ter o seu amor
Para ser ser ser feliz ao seu lado
Uol ha ha ha que dia feliz
Outra é "A Primeira Namorada":
A primeira namorada eacute; difíiacute;cil esquecer
Se vocênão volta logo de saudade vou morrer
Brega de A a Z - Antônio Marcos
Intérprete intenso, visceral, com uma ótima voz, letras profundas, poéticas e até apocalípticas. Dizem que sempre aparecia bêbado nos programas de TV, e parece que foi o álcool que o vitimou. Muitas músicas melancólicas e com arranjos ótimos, tem músicas em que é difícil não se emocionar.
"Oração de um Jovem Triste" - Lembra bastante King Crimson, a primeira vez que ouvi esta música, voltei umas cinco vezes nela. A música começa com um órgão bastante sombrio, e vai entrando a bateria e o baixo. A letra é religiosa e melancólica, "sempre tive tudo que quis, mas te confesso, não sou feliz". Baixo e bateria criativos e com timbres ótimos, ótimas viradas; tem um som que parece ser mellotron, tem um timbre ótimo, mas de uns tempos pra cá quase não foi mais usado, muitíssimo melhor do que o strings do teclado. Guitarra dissonante e distorcida quando ele canta: "calça apertada, de cinturão, toco guitarra, faço canção". Assim como "Homem de Nazaré" esta música também fala de Jesus Cristo. "Cabelos longos, iguais aos meus, tu és o Cristo, filho de Deus".
"Gaivotas" é uma das melhores músicas. Tem um instrumental mais ameno, violões, barulhos de mar, de barco e de gaivotas, a letra é uma linda poesia, com muitas metáforas sutis. A música lembra o balanço de um barco em um mar calmo. "Meu corpo balança sobre as águas, e o olhar se afoga em meu pranto, é que eu bem distante lá da terra, não compreendo gente que maltrata e erra". Depois ele canta com uma calma melancolia "tantas mágoas, tantas frustrações, eu vou deixar neste mar, quando anoitecer". A letra pode falar tanto de um passeio de barco, como pode ser uma metáfora sobre a vida. Tem um trecho que lembra o meu primo Eduardo, que era alguém que tinha muitos problemas, tinha várias tristezas interiores, mas sempre procurava animar as pessoas que estavam ao seu redor, principalmente da família, quase impossível não me emocionar quando eu o ouço: "e lá em casa, ninguém vai saber, quando eu chegar, vou sorrir, e adormecer". Ele vê uma gaivota, e fica pensando se ela sabe "que o amor se perde por dinheiro, e o homem se destrói no mundo inteiro". Fico pensando nas pessoas que mesmo com tristezas e problemas, procuram sempre trazer alegria para as pessoas. E de como estas pessoas sensíveis devem sofrer com esta brutalidade e frieza do mundo.
"Por que choras a tarde" é uma bonita música romântica, que tem um dedilhado que lembra o dedilhado da música "Quero ter você perto do mim" do disco de 1969 do Roberto Carlos (uma das músicas do Roberto que eu mais gosto)
"Homem de Nazaré" praticamente todo mundo conhece, mas não confundir com a ridícula versão que o Chitãozinho e Xororó fizeram. Esta tem um arranjo suntuoso, típico dos anos 70, onde se destaca o som grave e lento da bateria marcando, e o início em que ele fala, imponentemente "Mil, novecentos e setenta e três". Um dos melhores trechos da música é quando fica só bateria e voz.
"Menina de Trança" é uma música que não me chama muito a atenção, mas tem uma bonita melodia e umas percussões muito bem colocadas.
"Sonhos de um palhaço" tem um baixo impressionante, escute e comprove. A letra diz "e tem gente que diz que no circo o palhaço é apenas o ladrão do coração de uma mulher". Esta música tem umas pequenas afetações na voz, que lembram um pouco o Elymar Santos, mas nada muito compremetedor.
"Volte Amor" faz plágio de alguma melodia que eu não consigo dizer qual é, mas consegue um feito raro, consegue colocar aquelas recitações sem ficar ruim, e melhor, é uma garota que faz a recitação, com uma voz deliciosa. "Meu mundo aqui se resume na lembrança dos dias felizes de nosso amor. A rosa que você me deu eu ainda guardo, mas deve ter murchado entre as páginas de um livro que eu não consigo mais ler". Esta música é uma daquelas interpretações "paranormais", como diz meu amigo Hugo, ele implora desesperado: "será que não entende? o mundo segue em frente, o tempo não esperará, volte amor". E tem uma batida forte na bateria. Muito boa!
"Se eu pudesse conversar com Deus" é outra boa música religiosa do Antônio Marcos.
"Boneca cobiçada" é versão de uma música da velha guarda. Esta música não me chamou muito a atenção. Mas o legal é que eu lembro que o Seu Correia chamava a vocalista de uma banda que eu tive, a Jane, de "Boneca Cobiçada", nome ótimo de música.
"Como vai Você" é uma das mais conhecidas e regravadas músicas do Antônio Marcos. As regravações que eu ouvi ficaram muito boas: Roberto Carlos (previsível, quase o mesmo estilo), Nelson Gonçalves (um espetáculo! Ficou ótima com aquele vozeirão, e num ritmo um pouco mais lento), Daniela Mercury (surpreendentemente ficou boa, só voz e violão). Uma das mais bonitas músicas de amor que eu já ouvi. "Vem, que a sede de te amar me faz melhor, eu quero amanhecer ao seu redor, vem que o tempo pode afastar nós dois, não deixe tanta vida pra depois, eu só preciso saber.... como vai... você!!!"
"Quem Dá Mais" tem uma das letras mais psicodélicas. Já começa com ele dizendo "eu preciso me ver em 1996". Por que exatamente 1996? E é estranho para nós, porque 1996 já passou faz tempo. E a viagem não pára por aí, depois melhora, ele diz "outro dia sonhei que estava numa arena gigante, era eu o mais raro objeto vendido em leilão", aí cria um crescendo ótimo, em que ele vai dizendo: "e eu olhava tudo calado, e eu ouvia os preços gritados" até o refrão, dos mais lindos, puros e emocionantes que eu já vi, algo que eu admiro nele é a coragem de cantar coisas simples, mas não menos belas e profundas: "quem dá mais por um cara que ousou acreditar nos seus, quem dá mais por um homem que insiste na palavra Deus, quem dá mais por um louco que discorda do computador, quem dá mais por um velho ultrapassado que ainda crê no amor"
"Você pediu e eu já vou daqui" é uma ótima música romântica bem triste, o melhor trecho é quando ele diz: "o meu perdão eu vou saber lhe dar, e jamais direi que um dia você conseguiu me magoar", e o instrumental fica bem dramático nessa hora. "Se você quer eu vou embora, mas sei que não demora, você é criança e vai chorar"
"Vamos dar as mãos" ficou mal vista pelo fato do refrão ser banal, de certo ponto de vista. Mas ouvindo a música inteira, é uma música existencialista e apocalíptica, e uma das mais lindas mensagens pedindo a união das pessoas. Começa com um som de guitarra forte e agudo, e com ele cantando imagens fortes sobre o fim dos tempos: "antes do pano cair, antes que as luzes se apaguem, todas as portas se fechem, todas as vozes se calem, todos os olhos chorarem, antes que o dia anoiteça, e nunca mais amanheça, antes que a vida na Terra desapareça, vamos dar as mãos, e vamos juntos cantar". Um dos melhores momentos é quando fica só uma batida forte de bateria e a voz cantando o refrão. Temos que nos unir e fazermos o bem uns aos outros, "antes que seja tarde".
A última música que está sem nome aqui, tem arranjos ótimos de guitarra, naipe de sopros, quarteto de cordas e coral, fortes, precisos e vigorosos.
Brega de A a Z - Agnaldo Timóteo
A trilogia gay de Agnaldo Timóteo
Agnaldo Timóteo pode ser uma figura bastante controversa e polêmica, deputado (e ainda mais, do partido do Maluf), ser chamado de arrogante por muitas pessoas, mas ninguém pode negar que ele é um ótimo cantor e intérprete, e que seu repertório é muito bom.
Sua versão de "Tudo passa, tudo passará" de Nelson Ned, que exige bastante voz, é excelente.
Fala-se muito sobre a sua homossexualidade, mas no livro "Eu não sou cachorro, não", de Paulo Cesar Araújo, isso é contado em detalhes e mostra como isso influenciou sua obra. Conta até que ele morava com um homem. Este livro, essencial, contesta o mito de que os artistas bregas eram alienados politicamente. Agnaldo Timóteo comprova isto, fazendo músicas falando de sua opção sexual em plena ditadura militar. Na maioria das vezes, Agnaldo Timóteo era apenas intérprete, compondo ocasionalmente, porém ele fez uma trilogia de discos em que compôs a faixa título, e os três falavam de temas gays. O primeiro, "Galeria do Amor", fala de suas andanças pela Galeria Alaska no Rio de Janeiro, ponto de encontro de homossexuais; depois vem "Perdido na Noite", se aprofunda no tema de sair pela noite em busca de aventuras amorosas; e, para encerrar a trilogia, "Eu Pecador", fala sobre seu sentimento de culpa, por sua opção sexual ser conflitante com o que sua religião diz.
Um de seus maiores sucessos é uma música de autoria de Roberto Carlos, "Meu Grito":
Ai que vontade de gritar
Seu nome bem alto e ao infinito
Dizer que seu amor é grande
Bem maior que o meu próprio grito
Mas só falo bem baixinho
E não conto pra ninguém
Pra ninguém saber seu nome
Eu grito só meu bem.
Regravou versões de grandes músicas internacionais, como "Casa de Irene" e "Casa do Sol Nascente".
Fez uma participação na Casa dos Artistas, uma das cenas mais hilárias foi ele gordão, deitado no sofá, camisa florida e sunga. A sua fã (de araque) na Casa dos Artistas era uma menina bonita e jovem que não conhecia nenhuma de suas músicas e gostava de pagode. Atualmente é deputado no partido do Maluf.
Algumas curiosidades: outro dia, vi ele na rodoviária do Rio de Janeiro, dizem que ele tem medo de andar de avião, e uma amiga disse que do seu apartamento já viu ele vestido com um robe cor-de-rosa na sacada de seu apartamento.
Almir Rogério e seu Fuscão Preto
O brega também tem os artistas de um sucesso só, e um desses é Almir Rogério. Só que no seu caso, seu único hit, "Fuscão Preto", é com certeza um dos maiores clássicos do brega, e um daqueles casos em que a música supera o artista, como o caso da música "Aquarela" e Toquinho, em que todos conhecem a música mas nem todos conhecem o artista.
Fuscão Preto
A música é um dos mais perfeitos retratos de corno já feitos, a desconfiança começa nos boatos que começam a surgir:
me disseram que ela foi vista com outro
quando surge o protagonista da música, um carro:
num fuscão preto pela cidade a rodar
a descrição da mulher, uma das melhores já feitas sobre uma mulher vulgar, faz aumentar o ciúme do sujeito:
bem vestida igual à dama da noite
cheirando álcool e fumando sem parar
no desespero, ele pede a Deus para que tudo isso não passe de um boato
meu Deus do céu, diga que isso é mentira
porém, se for verdade, quer saber logo da traição
se for verdade, esclareça por favor
aí então vem o momento derradeiro, o da visão de sua mulher com o outro
daí pouco eu mesmo vi o fuscão
e os dois juntos se desmanchando de amor
e o refrão é um dos mais fortes e emblemáticos já feitos na música brega, cantado a plenos pulmões, onde você imagina a figura imponente de tal carro
fuscão preto, você é feito de aço
fez o meu peito em pedaços
e também aprendeu matar
fuscão preto, com o seu ronco maldito
meu castelo tão bonito,
você fez desmoronar
"Fuscão Preto" fez tanto sucesso que virou até filme, sendo que, curiosamente, a Xuxa é atriz protagonista, e na capa do vídeo tem o Almir Rogério a abraçando, vale a pena procurar. E além disso, o Almir Rogério disse numa entrevista que a Volkswagen deu até um prêmio a ele pela enorme propaganda feita ao seu veículo.
A música foi regravada, entre outros artistas, pelo Falcão que fez uma versão hilária traduzindo para o inglês ao pé da letra.
Motoqueiro
Essa alcançou um relativo sucesso, porém muito menor que o "Fuscão Preto". Esta também fala sobre dor de corno, mas é interessante notar que o "Fuscão Preto" é citado também nessa música, e passa de inimigo a amigo:
Motoqueiro
Que destino traiçoeiro
Destruiu meu coração
Pois trocou o meu fuscão
Pelo amor de um motoqueiro
A respeito de músicas sobre carros, ver também "Carro Hotel", do Bartô Galeno.
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